quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

MONS. COSTA - APRESENTAÇÃO DO RITO DE EXORCISMO


Jesus Cristo veio para anunciar e inaugurar o Reino de Deus no mundo e nos homens. Os homens têm uma capacidade de acolher a Deus em seus corações (Rm 5,5). Esta capacidade de acolher a Deus está, entretanto, ofuscada pelo pecado; e às vezes no homem o mal ocupa o lugar onde Deus quer viver. Por isto Jesus Cristo veio libertar o ser humano do domínio do mal e do pecado, e assim também de todas as formas de domínio do maligno, isto é, do diabo e de seus espíritos malignos chamados demônios, que querem desviar o sentido da vida do homem. Por esta razão, Jesus Cristo expulsava os demônios e livrava os homens da possessão dos espíritos malignos, para abrir espaço no homem, de maneira que, este último, tenha a liberdade para Deus. Ele quer dar seu Espírito Santo ao homem que é chamado a converter-0se em templo (1Cor 6,19; 1Pe 2,5) para dirigir seus passos (Rm 8,1-17; 1Cor 12,1-11; Gl 5,16-26) para a paz e a salvação.
O ministério da Igreja
A Igreja está chamada a seguir a Jesus Cristo e recebeu o poder, da parte de Cristo, de continuar sua missão em seu nome. Assim a ação de Cristo para libertar o homem do mal será exercida através do serviço da Igreja e de seus ministros ordenados, delegados do Bispo para cumprir os sagrados ritos dirigidos a libertar os homens da possessão do maligno. O exorcismo é, pois, uma antiga e particular forma de oração que a Igreja utiliza contra o poder do diabo.
A obsessão e suas características
A Sagrada Escritura nos ensina que os espíritos malignos, inimigos de Deus e do homem, desenvolvem sua ação de diversas maneiras; entre elas está a obsessão diabólica chamada também possessão diabólica. Entretanto, a obsessão diabólica não é o modo mais freqüente como o espírito das trevas exerce sua influência.
A obsessão tem características de particulares e nela o demônio se apodera, de certo modo, das forças e das atividades físicas da pessoa que padece a possessão. Não pode, entretanto, apoderar-se da livre vontade do sujeito, e por isso o demônio não pode comprometer a vontade livre da pessoa possuída até o ponto de fazê-la pecar. Esta violência física que o diabo exerce no obsesso é uma incitação ao pecado, que é o que o diabo busca lograr. O ritual do exorcismo indica diversos critério e indícios que permitem chegar, com prudente certeza, à convicção de quando se tem diante de si uma possessão diabólica. Então o exorcista autorizado poderá realizar o solene rito do exorcismo. Entre estes critérios encontram-se: falar ou entender muitas palavras em línguas desconhecidas, evidenciar coisas distantes ou inclusive escondidas, demonstrar forças além da própria condição, e isto junto com a aversão veemente a Deus, à Virgem, aos Santos, à Cruz e às imagens santas.
Vale a pena destacar que para poder realizar o exorcismo é necessária autorização do Bispo diocesano, autorização que pode ser concedida para um caso específico ou também de modo geral e permanente ao Sacerdote que exerce na diocese o ministério de exorcista.
O Ritual do Exorcismo
O Ritual Romano continha, em um capítulo específico, as indicações e o texto litúrgico dos exorcismos. Este capítulo era o último e ficou sem revisão depois do Concílio Vaticano II, a redação final deste Rito dos Exorcismos exigiu muitos estudos, revisões, atualizações e modificações com várias consultas das Conferências Episcopais, depois de uma análise de parte de uma Assembléia Ordinária da Congregação para o Culto Divino. O trabalho exigiu 10 anos e deu como resultado o texto atual, aprovado pelo Sumo Pontífice, que está publicado e à disposição dos Pastores e dos fieis da Igreja. Ficará ainda pendente um trabalho que compete às respectivas Conferências Episcopais: e é o da tradução deste Ritual às línguas faladas nos respectivos territórios; estas traduções deverão ser exatas e fiéis ao original em latim e deverão ser postas, segundo a norma canônica, ao reconhecimento da Congregação para o Culto Divino.
O exorcismo
No ritual que hoje apresentamos encontra-se, antes de tudo, o rito do exorcismo propriamente dito, a ser exercitado sobre uma pessoa possessa. Seguem as orações a recitarem-se publicamente por um sacerdote, com a permissão do Bispo, quando se julga prudentemente que existe uma influência de Satanás sobre lugares, objetos ou pessoas, sem chegar ao estado de uma possessão própria e verdadeira. Há, além disso, uma coleção de orações para recitar de forma privada por parte dos fiéis, quando estes suspeitam com fundamento de estarem sujeitos ou sob influência diabólica.
O exorcismo tem como ponto de partida a fé da Igreja, segundo a qual existem Satanás e os outros espíritos malignos, e que sua atividade consiste em afastar os homens do caminho da salvação. A doutrina católica nos ensina que os demônios são anjo caído por causa do pecado, que são espíritos de grande inteligência e poder.
Influência através da mentira
Gostaria de destacar que a influência nefasta do demônio e de seus sequazes é habitualmente exercitada através do engano, o embuste, a mentira e a confusão. Como Jesus é a Verdade (Jo. 8,44), assim o diabo é o mentiroso por excelência. Desde sempre, desde o princípio, o engano tem sido sua estratégia preferida. Não há dúvida de que o diabo consiga enredar tantas pessoas nas redes de suas mentiras, pequenas ou clamorosas. Engana os homens fazendo-os crer que a felicidade se encontra no dinheiro, no poder e na concupiscência carnal. Engana os homens convencendo-os de que não têm necessidade de Deus e que são auto-suficientes, sem necessidade da graça e da salvação. Inclusive engana os homens diminuindo, e mais, fazendo desaparecer o sentido do pecado, substituindo a lei de Deus como critério de moralidade, pelos costumes ou as convenções da maioria. Persuade as crianças de que a mentira é um modo apropriado para resolver diversos problemas, e assim, pouco a pouco cria entre os homens uma atmosfera de desconfiança e de suspeita. Por detrás das mentiras e dos enganos, que trazem consigo a imagem do Grande Mentiroso, desenvolvem-se as incertezas, as dúvidas, um mundo onde não ha mais segurança nem Verdade e onde, ao contrário, reina o relativismo e a convicção de que a liberdade consiste no fazer o que quiser: assim não se entende mais que a verdadeira liberdade é a identificação com a vontade de Deus, fonte do bem e da única felicidade possível. Luta, Graça e Vitória A Igreja está segura da vitória final de Cristo e, portanto, não se deixa levar pelo medo ou pelo pessimismo, mas ao mesmo tempo é consciente da ação do maligno que busca nos desanimar e semear a confusão. “Tenham fé -diz o Senhor- Eu venci o mundo!” (Jo. 16,33). Nesse marco encontram seu lugar os exorcismos, expressão importante, embora não única, da luta contra o maligno.